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Boletins

O RETRATO DO BRASIL EM 2008

Desigualdade cai; renda e emprego avançam

 Pnad, o mais abrangente retrato do país, revela ganhos com expansão econômica entre setembro de 2007 e setembro de 2008

No período, a taxa de desocupação caiu de 8,2% para 7,2%, menor patamar desde 1996, mas número de adultos analfabetos cresce
 ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O retrato do Brasil antes da crise, revelado ontem pelo IBGE em sua Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), mostra um país que seguia seu processo de melhoria da renda, diminuição da desigualdade e da pobreza e crescimento do emprego formal.
Mas a fotografia do Brasil, feita em setembro de 2008 pelo IBGE, mostra que o vigoroso crescimento econômico ocorrido nos 12 meses anteriores não conseguiu reduzir um dos mais graves problemas do país, o analfabetismo. A taxa de analfabetismo recuou apenas 0,1 ponto percentual na comparação de 2007 para 2008. Ocorreu inclusive um pequeno aumento no número absoluto de analfabetos adultos, de 14,136 milhões para 14,247 milhões.
Por ter setembro como referência, o Pnad não captou efeitos da crise que começou a abalar o mundo no último trimestre de 2008, quando pesquisas do próprio IBGE registraram aumento do desemprego e queda na renda e no crescimento.
Apesar de menos atualizada, a Pnad é a mais abrangente e detalhada pesquisa anual do IBGE, cobrindo todo o país e analisando diversas características da população.
Em 2008, a renda média do trabalhador foi de R$ 1.041, uma variação de 1,7% em relação a 2007. Ela está, no entanto, ainda 3,1% abaixo da verificado em 1998, de R$ 1.074.
Essa alta de 1,7% foi a menor desde 2004, quando a economia começou a se recuperar. Apesar de a renda ter crescido menos, a Pnad mostra que, em setembro de 2008, mais brasileiros conseguiram emprego -a taxa de desocupação caiu de 8,2% para 7,2%, o menor patamar desde 1996.
A redução no desemprego significou que 2,5 milhões a mais de brasileiros estavam ocupados em setembro de 2008 na comparação com o mesmo período de 2007. E a maioria dos postos criados foi no setor formal, já que houve aumento de 6,6% (2,1 milhões) no número de empregados com carteira assinada.
Ainda assim, pouco mais de um terço (34,9%) dos empregados no Brasil tinha carteira assinada. Em 2001, esse percentual era de 29,4%.
O crescimento da formalização no mercado de emprego contribuiu para o aumento da proporção de trabalhadores que contribuíam para a Previdência: de 50,6% para 52,1%.
No caso da renda do trabalho, a queda na desigualdade, medida pelo índice de Gini, foi de 1,3%, menor do que a redução verificada de 2006 para 2007, mas maior do que a registrada anualmente de 2003 a 2005.
Na comparação com 1998, houve crescimento de 22% na renda dos 50% mais pobres. Os 10% mais ricos, nessa comparação, ainda registram perda salarial de 3,1%.
Mesmo assim, os 10% mais ricos (R$ 4.424 ou mais) concentram 43% da riqueza, enquanto os 50% mais pobres respondem por apenas 18%.
 3,8 mi deixam pobreza com alta do emprego
 Melhora do mercado de trabalho e da renda faz com que proporção de pessoas pobres chegue ao menor nível desde 1992

Na opinião de especialista, programas sociais, como o Bolsa Família, também tiveram efeito, mas menor que o impacto do emprego
 DA SUCURSAL DO RIO
A melhoria do emprego e da renda verificada até setembro de 2008 fez com que 3,8 milhões de brasileiros deixassem a linha de pobreza no ano passado, segundo cálculos feitos a partir da Pnad pelo economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, do Rio de Janeiro.
Na comparação com 1993 (ano da série histórica feita por ele em que houve maior proporção de pobres), o país registrou uma queda de mais da metade no percentual de pobres.
Em 1993, a proporção era de 35%. Em 2008, chegou a 16%, o menor percentual da série, que começa em 1992.
Neri destaca que uma característica positiva da redução da pobreza nos últimos cinco anos é que ela tem sido verificada de forma constante desde 2003, quando o percentual registrado foi de 28%.
Segundo ele, o país viveu nesses últimos cinco anos "um período de ouro" no combate à pobreza, que já supera a magnitude da queda de outro "período de ouro": o controle da inflação pelo Plano Real. De 1993 a 1995, quando o plano foi lançado, a pobreza caiu de 35% da população para 29%.
De 1995 a 2003, esse percentual ficou relativamente estável, com pequenas oscilações no período. Foi então, a partir de 2003, que ele voltou a cair por causa do aumento da renda média per capita, especialmente nas camadas mais pobres.
"O mais positivo é que essa redução na pobreza e na desigualdade aconteceu principalmente por causa da melhoria do mercado de trabalho. Os programas sociais, como o Bolsa Família, também tiveram uma participação, mas ela foi menor do que o efeito do próprio mercado", afirma Neri.
O economista considera como linha que define a pobreza uma renda domiciliar per capita de R$ 144 em 2008.
Ele explica que esse valor foi calculado considerando o custo que as pessoas teriam para comprar alimentos e satisfazer suas necessidades calóricas básicas de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Esse cálculo leva em conta também que o custo de vida varia entre as regiões brasileiras. Na Grande São Paulo, por exemplo, ela é de R$ 151 de renda domiciliar per capita.
Neri destaca que, se a pobreza continuar caindo no ritmo atual, o Brasil cumprirá com folga uma das metas do milênio, conjunto de objetivos acordados pelos países e monitorados pela Organização das Nações Unidas: reduzir pela metade até 2015, tendo como referência o ano de 1990, a proporção de pessoas vivendo com menos de US$ 1 por dia (R$ 1,8).
 Desníveis regionais marcam pesquisa
 JOÃO SABOIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2008 confirmaram a tendência de aumento do nível de rendimento e de melhoria da distribuição de renda que vem ocorrendo no país há alguns anos.
O significado de tais resultados, entretanto, necessita de uma qualificação inicial. Embora a Pnad seja uma pesquisa que fornece a cada ano um quadro abrangente da sociedade brasileira, sua capacidade para captar dados de rendimento é bastante limitada, cobrindo basicamente os rendimentos do trabalho e das transferências (aposentadorias, pensões e assistência social).
Tanto o rendimento do trabalho quanto o de todas as fontes levantadas apresentaram aumento entre 2007 e 2008, resultando em crescimento do rendimento dos domicílios. Em termos distributivos, houve melhora generalizada nos três casos -rendimentos do trabalho; de todas as fontes; e domiciliares. É verdade que em alguns casos o aumento no nível de rendimento e a queda na desigualdade foram menos intensos que no passado recente. De qualquer forma, não deixa de ser positiva a informação de continuidade do movimento anterior de melhoria.
Um dos aspectos negativos que devem ser destacados é a permanência dos enormes desníveis regionais em termos de rendimento. De um lado, há a região Nordeste, com os menores rendimentos e alta desigualdade. De outro, a região Centro-Oeste, com os maiores níveis de rendimento e de desigualdade, certamente por conta dos elevados rendimentos concentrados na capital federal. A situação mais favorável parece ser encontrada na região Sul, em que os níveis de rendimento são relativamente altos e a desigualdade está entre as menores do país.
Dois fatores devem ser mencionados por sua contribuição para o aumento da renda e a melhoria de sua distribuição nos últimos anos. O primeiro é a ampliação do programa Bolsa Família, que, ao incorporar mais de 11 milhões de famílias nos últimos anos, transferiu renda diretamente nas mãos dos mais pobres, com resultados significativos sobre a redução da pobreza e a melhoria da distribuição de renda. Ocorre que sua ampliação em termos de inclusão de novas famílias pobres está se encerrando. Portanto, no futuro, seus efeitos sobre a redução da pobreza e da desigualdade vão depender de um aumento do valor dos benefícios, à medida em que não há muito mais famílias pobres a serem absorvidas no programa.

Salário mínimo
O segundo elemento é o salário mínimo, que atua tanto na base da pirâmide de rendimento do mercado de trabalho, quanto no piso da Previdência Social e no benefício de prestação continuada (no valor de um salário mensal transferido a cerca de 3 milhões de idosos e deficientes pobres).
Nos últimos anos, o salário mínimo vem passando por um intenso processo de recuperação, beneficiando milhões de pessoas no país. Tendo em vista a regra atual de reajuste do mínimo, seu potencial para redução da pobreza e melhoria da distribuição de renda permanece em vigor.
Os dados agora divulgados da Pnad são de setembro de 2008, quando a crise internacional chegava ao país. Estamos em setembro de 2009, quando o IBGE realiza nova Pnad. Fica aqui a curiosidade para ver, daqui a um ano, por ocasião da divulgação da nova Pnad, como o país enfrentou os 12 meses iniciais da crise que assombrou o mundo.
 

JOÃO SABOIA é diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
 
Com renda alta, Distrito Federal é o lugar mais desigual do país
 EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de Brasília ser a cidade de maior renda per capita do Brasil, o Distrito Federal ostenta o título de lugar mais desigual do país, quando se levam em conta todas as fontes de rendimento da população em idade ativa, e não apenas a renda do trabalho, segundo dados da Pnad. Os altos salários pagos aos ocupantes de cargos administrativos contrastam com o aumento dos bairros pobres em torno do centro do poder.
Segundo a pesquisa do IBGE, a renda média por indivíduo no Distrito Federal chega a R$ 2.117, mais que o dobro da média do país, que não passa de R$ 1.036. Na conta brasiliense, pesa a remuneração do funcionalismo e de profissionais que prestam serviços ao governo.
A capital registra o maior índice de Gini, que mede a desigualdade. Em uma escala de zero a um ponto, na qual valores mais altos refletem maiores discrepâncias sociais, Brasília obteve 0,618 ponto em 2008. A média nacional ficou em 0,530.
"Tradicionalmente a desigualdade no Centro-Oeste é superior à nacional, sobretudo pela situação do Distrito Federal. Mesmo se tratando de uma minoria com altos salários, o intervalo para os menores valores é tão alto que faz diferença no índice", afirma a analista do IBGE Adriana Beringuy.
Enquanto a taxa nacional de desocupação é de 7,1%, na capital federal o índice é de 11,15%, o segundo maior do país, atrás do Amapá, com 14,9%. A taxa que considera só as pessoas desempregadas em busca de trabalho é alta no Distrito Federal pela grande perspectiva de inserção no mercado. "A Pnad mostra que, diferentemente de outras regiões, em Brasília as pessoas estão tomando providências para conseguir emprego, seja distribuindo currículos, seja prestando concursos", diz a analista do IBGE.
Para o sociólogo Vicente Faleiros, professor da UnB, a sede da República retrata as relações entre ricos e pobres no país. Para além da questão econômica, também entra em cena o problema da violência, diz.
"A migração para as periferias da áreas que concentram maior renda se justifica pela teia de serviços que uma população presta à outra. Estando próximas fisicamente, a distância social fica ainda mais evidente", afirma Faleiros.
O jardineiro Jurandir de Oliveira, 42, mora há 17 anos no Varjão, um dos bairros mais pobres de Brasília. Nesse tempo sempre trabalhou a poucos metros de casa, no Lago Norte, área nobre da cidade.
"Já fui discriminado por ser morador da favela, mas hoje todos aqui me conhecem e até contratam pessoas lá de baixo por indicação minha", diz.
Segundo ele, a violência no Varjão é alta e ultrapassa a fronteira entre os dois bairros. "Geralmente os assaltantes procuram regiões mais afastadas para despistar a polícia."
A funcionária aposentada do Banco do Brasil Telma Rosa, 59, prefere empregar trabalhadores do Varjão, que podem ir a pé ou de bicicleta para o serviço. Apesar de a maioria das casas da rua já ter sido assaltada, ela diz não se sentir ameaçada. "Sei que são fatos isolados."
 Taxa de analfabetismo recua pouco no país
 Índice caiu de 9,9% para 9,8% entre 2007 e 2008; em números absolutos, total de analfabetos adultos subiu de 14,14 mi para 14,25 mi

Entre os dados positivos, IBGE registrou queda no percentual de jovens de 15 a 17 anos fora da escola, que recuou de 17,9% para 15,9%
 DA SUCURSAL DO RIO
Nos indicadores da educação, um dado do IBGE destoa das boas notícias econômicas: a taxa de analfabetismo recuou só 0,1 ponto percentual na comparação entre 2007 e 2008.
Os dados mostram que chegou até mesmo a haver um pequeno aumento no número absoluto de analfabetos adultos, que passou de 14,136 milhões para 14,247 milhões, mas, como a população de 15 anos ou mais aumentou, a taxa acabou caindo 0,1 ponto.
Em compensação, a pesquisa registrou avanço em uma taxa que há cinco anos dava sinais preocupantes de estagnação: o percentual de jovens de 15 a 17 anos fora da escola, que caiu de 17,9% para 15,9%.
Analisando a série histórica da taxa de analfabetismo, se percebe que o Brasil não consegue mais reduzi-la no mesmo ritmo da década passada. De 1992 a 1999, a proporção de adultos analfabetos caiu de 17,2% para 13,3%, redução de 3,9 pontos percentuais em sete anos. De 2001 para 2008, o recuo foi menor: 2,5 pontos percentuais, de 12,3% para 9,8%.
Um dos maiores entraves para a redução do analfabetismo é que ele se concentra nas populações mais velhas, já que entre 15 e 24 anos, o percentual de analfabetos é de apenas 2,2%.
Como os idosos estão vivendo mais, a redução do analfabetismo entre crianças tem tido impacto menor na taxa total. Outra explicação para essa queda lenta é que, apesar das campanhas lançadas pelo governo para reduzir o analfabetismo adulto, os programas não conseguem atrair para a sala de aula essa população mais velha.
Prova disso é que a Pnad mostra que apenas 3% dos analfabetos diziam estar frequentando uma sala de aula em 2008.

Bolsa Família
O ministro da Educação, Fernando Haddad, comemorou os resultados de aumento da escolarização divulgado pelo IBGE, mas reconheceu que os dados de analfabetismo preocupam.
"Precisaremos analisar melhor a Pnad para entender por que houve esse aumento no número absoluto de analfabetos. Por se tratar de uma pesquisa amostral, não se pode descartar que isso seja resultado de algum ajuste estatístico. Não dá para entender como o número de analfabetos aumenta na população de 25 anos ou mais se os dados mostram que as gerações mais jovens têm taxa bem menor", afirmou Haddad.
No caso da queda na taxa de jovens fora da escola, Haddad comemorou a notícia porque, segundo ele, esse segmento populacional é o mais difícil de ser atraído para a escola. "No caso dos jovens, não basta construir escolas. É preciso torná-la atraente, e os dados indicam um movimento positivo de volta à sala de aula."
Ele também disse que pode haver relação entre a ampliação do Bolsa Família e o aumento de matrículas entre os jovens de 15 a 17 anos. Em março do ano passado, as famílias inscritas no programa federal passaram a receber R$ 33 por filho dentro dessa faixa etária matriculado na rede de ensino. O benefício é válido por até dois jovens por família.
"O Bolsa Família, tendo sido estendido para a faixa de 15 a 17 anos, pode ter repercutido na melhoria do atendimento. O aluno volta à escola porque, caso contrário, perde o benefício", afirmou o ministro.
 Analfabetismo funcional pode ser conceito traiçoeiro
 HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Embora muitos educadores prefiram trabalhar hoje com a noção de analfabetismo funcional, em vez do mais academicista analfabetismo absoluto, o conceito pode ser traiçoeiro, em especial se utilizado em comparações internacionais.
Depois de 20 anos de ásperos debates ideológicos, a Unesco decidiu em 1978 reformular sua definição, passando a considerar funcionalmente alfabetizado o indivíduo inserido de forma adequada em seu meio e que é capaz de desempenhar tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo são usados para o seu próprio desenvolvimento e o de sua comunidade.
No papel faz sentido, mas, como o leitor já deve ter antevisto, medir esse tipo de coisa em censos não é trivial. A "solução" encontrada foi utilizar substitutos mais objetivos, como os anos de instrução formal.
O problema é que, como a definição pressupõe a boa integração da pessoa a seu meio e esta varia de acordo com nacionalidade, classe social etc., não se estabeleceu nenhum critério uniforme. Enquanto o IBGE considera analfabetos funcionais os brasileiros maiores de 15 anos com menos de quatro anos de estudo, o Canadá exige nove anos de escolaridade.
Nos EUA, o Departamento de Educação desenvolveu um método mais preciso. Ele criou um teste que mensura a capacidade de compreensão do indivíduo em três níveis -textos em prosa, documentos (mapas, tabelas) e cálculos- e o submete a amostras representativas da população. Por esse sistema, os índices de analfabetismo funcional dos EUA para 2003 são 14% (prosa), 12% (documentos) e 22% (cálculo).
Assim, embora os 21% de analfabetos funcionais registrados no Brasil não pareçam um escândalo diante dos números dos EUA -nação bem mais rica e educada-, é preciso ter em mente que estamos comparando coisas bem diferentes. Pelos critérios norte-americanos, só 13% da população é proficiente nas três áreas.
 Depois da crise, renda e emprego voltam a ter recuperação
 É o que mostram índices menos abrangentes, porém mais atualizados em relação à Pnad, que trabalhou dados de 2008

Desemprego passa de 9% em março para 8% em julho, quase o mesmo patamar de antes da crise; taxa é menor que a de outros países
 DA SUCURSAL DO RIO
Desde setembro de 2008, mês de referência da Pnad, outros indicadores menos abrangentes, porém mais atualizados, demonstram que o país registrou uma piora em indicadores de renda e emprego, mas já conseguiu, em algumas áreas, recuperar ou se aproximar do patamar pré-crise.
A Pesquisa Mensal de Emprego, por exemplo, que abrange somente as seis principais regiões metropolitanas do país, mostra que o desemprego, que havia chegado a 9% em março deste ano, caiu em julho para 8%, praticamente o mesmo patamar registrado antes da crise, em julho de 2008 (8,1%).
Movimento semelhante ocorreu com o emprego formal, segundo dados divulgados pelo Ministério do Trabalho. Houve corte de vagas no ápice da crise, mas a recuperação em agosto "zerou" as perdas.
O presidente IBGE, Eduardo Pereira Nunes, comparou a variação do desemprego no Brasil com a da Espanha e a dos EUA.
No caso da Espanha, no segundo trimestre deste ano foi registrado um percentual de 17,9% de desempregados, número bastante superior aos 11,3% de 12 meses antes.
Nos Estados Unidos, país em que a recessão global se iniciou, Nunes destacou que houve aumento de 6,2% para 9,7% no período de um ano durante a crise. Na Argentina, a variação foi de 7,8% para 8,8%.
Para a economista Lena Lavinas, da UFRJ, a tendência é que o país volte a ter saldo positivo de novos empregos até o fim do ano. Ela afirma que, como a Pnad é sempre realizada em setembro, é provável que o quadro que a pesquisa revelará no ano que vem seja menos dramático do que o que se verificou no início deste ano.
Lavinas destaca também que a recuperação do emprego formal foi o principal destaque da Pnad divulgada ontem.
"Esse crescimento da carteira assinada [de 7%] é muito importante. São empregos de qualidade, que colocam o trabalhador no campo dos direitos. E o bom foi que o aumento da formalização ocorreu também entre os mais pobres. Foi por isso que o mercado de trabalho foi o principal responsável pela redução da pobreza", afirma.
Ruy Quintans, professor de economia do Ibmec-RJ, faz leitura menos otimista do cenário daqui para a frente. Para ele, apesar da melhoria nos dados mais recentes do PIB, ainda há muito a ser recuperado.
"A grande questão é que esses indicadores refletem um movimento de curto prazo. As exportações ainda não estão reagindo, a indústria ainda não voltou a crescer o suficiente para recuperar as perdas, e não percebo ainda nenhuma medida do governo suficiente para retomar o crescimento a longo prazo", diz Quintans.
Em sua avaliação, a estratégia do governo para enfrentar a crise produz resultados de curto prazo com a diminuição da taxa de juros, que já teria chegado ao limite, e o aumento dos gastos públicos. "São medidas suficientes apenas para frear a recessão."
 
Pessoas só com celular em casa são maioria
 Mais de 39% dos brasileiros moram em residências em que celular é o único telefone

Proporção dos que têm só o celular é maior (43%) nos domicílios com renda até dez mínimos; 31,2% dos lares possuem computador


ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO


O grupo de pessoas que moram em domicílios em que o celular é o único telefone se tornou o maior em 2008. Ele superou, segundo os dados da Pnad, aqueles que possuem aparelho móvel e fixo, ou que têm apenas o telefone convencional.
A pesquisa do IBGE mostrou que 39,4% das pessoas moram em residências apenas com telefone móvel. Enquanto 38,7% moram em domicílios com celular e fixo, apenas 4,8% vivem em casas onde há apenas o aparelho convencional.
A proporção dos que têm apenas o celular é ainda maior nos domicílios com renda até dez salários mínimos: 43%.
O número de pessoas com algum aparelho em casa subiu de 77% para 82,1%. O IBGE não conta o número de telefones por lar. Registra a presença ou não de cada tipo de aparelho.
Na avaliação de Juarez Quadros do Nascimento, ex-ministro das Comunicações, dois movimentos explicam a maioria que usa exclusivamente a telefonia móvel: parte abandonou o fixo que tinha em casa, parte teve como primeiro telefone um celular.
"As pessoas saem de casa cedo, voltam tarde. Elas se questionam por que pagar uma mensalidade cara, para a realidade brasileira, dos telefones fixos. O advento do pré-pago permitiu isso", afirmou.
Também houve aumento no número de domicílios com computador e acesso à internet. Segundo a Pnad, 31,2% das residências possuem computador e 23,8% têm acesso à rede mundial de computadores. No ano passado, as taxas eram de 26,5% e 20%, respectivamente.
Mas, diferentemente do que ocorre com os telefones, a presença de computador em casa está longe de ser universalizada. Enquanto nas duas maiores faixas de renda domiciliar, entre 10 e 20 salários mínimos e acima de 20, ele está presente em mais de 80% das casas, na menor (abaixo de 10 salários mínimos) está em apenas 25%.
O eletrodoméstico mais comum nos domicílios brasileiros é o fogão (98,2%), seguido da TV (95,1%), geladeira (92,1%) e rádio (88,9%). O freezer é o equipamento mais raro: está presente em 16% das casas.

Saneamento
Apesar do aumento da presença dos bens duráveis, houve ligeira piora no número de domicílios sem tratamento de esgoto adequado.
Segundo a Pnad, aumentou de 26,6% em 2007 para 26,8% em 2008 o número de residências sem qualquer tipo de esgotamento sanitário. Houve alta entre os domicílios atendidos pelas redes coletoras (subiu de 51,1% para 52,5%), mas isso não foi suficiente para compensar a queda nas fossas sépticas (de 22,3% para 20,7%), também consideradas adequadas.
A região Centro-Oeste tem a pior cobertura de tratamento de esgoto: 51,5% dos domicílios não são atendidos. A situação piorou mais no Sul, onde a taxa de lares nessas condições subiu de 20,7% para 23,2%.
 Mais de 360 mil crianças e jovens deixam de trabalhar
 DA SUCURSAL DO RIO
 A taxa de ocupação de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos caiu de 10,8% em 2007 para 10,2% no ano seguinte, de acordo com os dados divulgados ontem pelo IBGE. O resultado significa que, em 2008, 367 mil pessoas dessa faixa etária deixaram de trabalhar, em comparação ao ano anterior.
A tendência de redução no trabalho infantil vem se mantendo desde 2006. O ritmo da queda, no entanto, não agrada a especialistas. Segundo a pesquisa, 4,5 milhões de crianças e adolescentes estavam ocupadas.
Para a gerente de programas e projetos da Fundação Abrinq, Denise Cesario, o governo tem boas políticas para a redução do trabalho infantil, mas "está muito distante de garantir o direito das crianças e adolescente".
Segundo ela, o maior desafio é diminuir a ocupação nesta faixa etária no meio rural, que concentrava 35,5% das crianças ocupadas.
A pesquisa do IBGE mostra que o perfil do trabalho infantil segue sendo masculino, agrícola e sem registro.
Fonte: Folha de S.Paulo